2 de dezembro de 2010

Sal

Completamente convicto, meus sentimentos totalmente egoístas e em inglês, eu não tinha escolha, amava muitos, e ninguém ao mesmo tempo, meus sentimentos estavam tomados de precaução, todas em inglês, foi o momento menos anárquico de minha vida, ou eu nunca fui anarquista.

A preocupação e medo vinham no escuro de meus pesadelos, e a consumação era livre sobre mim, meu corpo servia de mesa para os demônios saciarem suas vontades carnais, eu era experimento do maligno, eu era sombras sem volta, um sentimento de medo e leve atração me possuíam violentamente, doente e tossindo.

Eu permanecia nu frente ao meu eu refletido e deformado, a imagem de mim, dessa vez era completamente sem vaidade e nada me interferia, eu era azulado e gelado, deformado como o Quasimodo, dessa vez eu estava realmente convicto que morreria, e eu precisava digerir a imagem, com asco.

Tinha essa certeza porque tudo me doía física e emocionalmente, tudo me significava de uma maneira inexplicável que me dava medo, e o medo era difícil de disfarçar, e eu ás vezes até pensava que não queria morrer, mas ao mesmo tempo me preparava à saltar de um grande desfiladeiro cheio de rochas, e terminar na planície poeirenta cheio de sangue e terra, todos secos em mim, de olhos úmidos abertos, fitando o sol carnívoro roendo-me até o osso, sobrando de mim carniça. E isso era importante para eu me livrar de tudo, ou arranjar outros problemas que me distraíssem do principal movimento que me empurrava a tanto desfiladeiro.

O amor.

Sopram-se ventos e areias, tornam-se violentas nos olhos, surge grandes vendavais vastos de emoção e fúria, e a dor agora é revelada.

Amor que eu sentia e não o dedicava a ninguém, o sentimento que eu deixava derramar em forma de sexo em cima de qualquer bêbado que me soprasse, tudo misturado na minha existência fina e rara, mas sempre minha raridade era passável, facilmente desmentida, e assim a entregava a qualquer tolo imundo por minutos de sentimentos físicos insatisfatórios, e nenhum tinha nome ou cheiro que agradasse, nenhum se aproximava do ponto em que eu precisava ser atingido, me colocava a tossir doenças profanas, lembrava no dia seguinte do cheiro ruim de um bêbado ou de um mendigo o qual entreguei meu corpo, e adoeci.

Quando tive a certeza que morreria foi um grande alívio, percebi que era ali que me desfaria de todo manto que me fazia falsa raridade, e enfim pularia do penhasco amarrado em grandes fitas coloridas seguido de jatos de tinta balões e sem cabelo, pois me colocaria a raspar todos os fios. Eu seria como uma perola que por acaso se descobre em baixo de metros de seda, e eu quase seria raro novamente, voltaria para o mar e seria sal, e seria não-raro, e útil eu seria.

As águas me tomariam com cautela, me faria peixe-sereia me faria vivo, com algas e ventos de mar eu seria boiando até o centro e afundaria nitidamente nu e falecido, peixe-sereia eu seria morto e molhado de mar salgado.

Sentia sutilmente que os sonhos eram enfim meu futuro, e eles diziam coisas, incontroláveis, por vezes ideais.

Sentia a necessidade de rituais e de significados, sonoridades de concha, me desfiz de algumas vaidades, me vesti de branco e aguardava a morte macia com gosto de mar, um mar albino, espumando barulhento.

A morte não veio.

Sal.