28 de dezembro de 2009

Narração

[Não se deve Ler as frases guardadas nas casas quadradas]
Ensaio sobre um cigarro e uma janela.




Isso significa adeus [sopra uma doce baforada de cigarro de cereja]
[significativo]
Completamente [pausa] triste, com tendinite e olhos vermelhos.
Eu me despeço... [olhando para a câmera com certo ar cansado]

[discursa agora olhando um pouco para cima]
Os tempos parecem não serem muito favoráveis agora.
Eu colocaria roupas melhores, mas o que tenho é isso.
Eu colocaria sorrisos melhores, mas não tenho nada sobre isso.
Espero que não seja uma farsa.
Espero que você não esteja sofrendo assim, [clica os olhos, olhando para si, talvez até abaixe a cabeça]
Só assim explica o descaso, só assim entenderia o seu desastroso jeito de levar as coisas, mas acho que não sei mais entender.
Não é época de primavera, e eu lanço minha temporada de amor antecipado, procurando alguém que possa ser para mim, algo que nunca tive de lugar nenhum.
E mesmo sem ter tido qualquer romance degenerante, e agressivo...
Eu sofro igual, e machuco sem querer o coração de outros três.
Eu sinto muito meus descompassos, eu só queria qualquer coisa sobre viver, e as grandes curvas que isso remete, eu só queria entender melhor o espaço que ocupo, só entender melhor as coisas que penso, as coisas que bebo ardidamente, as coisas que agora parecem menos significantes, essas coisas tem tomado novas voltas, e o costume tem acontecido mais. [muitos minutos passam]...

Não sei se é evitável, ou se é passível e digno de cigarro e janela, mas aqui não tem janela, não vejo o sol, e nunca pensei que sentiria falta dele,o sol, [fala isso um pouco rápido, e depois vira a cabeça]talvez por isso não tenho recebido visitas, talvez aqui é a minha prisão, e eu cumpro minha sentença desesperado, rangendo meus dentes no sono, e percebendo como é difícil ser nesse mundo de coisas infalíveis, e desmontantes. [um pouco de dor na voz]
Percebo talvez nitidamente, com uma ironia de curinga, que as coisas tem segredos, e truques, percebo também com olhos cerrados, que não adiantaria ter feito diferente, tudo ficaria igual.
Trago o ultimo sopro do cigarro ruim, lembro um pouco do câncer, e me retiro de frente a janela sem paisagem, [agora o personagem se esquece que não é o narrador de sua própria história] descubro buracos no muro, frestas ainda sem luz, devo esperar até que se desmanche com as intempéries do tempo, e abra caminho para eu sair daqui. Vou enfim dar uma volta na grama, e beijar o lago.

7 de dezembro de 2009

Laura burra e desavisada de sí

Laura vendo um filme triste, de repente se senta no sofá e percebe que ela, definitivamente não é o que pensava ser.
O coração de Laura agoniza, como se ali dentro, guardasse o pedaço da alma, que nos faz ser. Imediatamente, Laura leva a mão ao peito, e sensível chora.
Laura agora não sabe quem é, mas sabe que não é mais o que era antes, e agora? O que Laura deve fazer, olhando a janela da cozinha, com a mão ainda no peito, Laura percebe que tem um longo caminho para descobrir-se de si;
Por onde começar? Laura senta na cadeira e olha para o livro de receitas sobre a mesa, e resolve começar do passado, uma breve análise sobre quem ela achava ser.
Ela acreditava que era mulher, esposa, mãe e dona de casa, o choque da simplicidade infeliz que era sua vida, a fez balbuciar um choro ruim, imediatamente tratou de ter pena de si, e buscou significados mais complexos sobre o que se pensava ser. Laura então decidiu que achava que era, sensível, amável, zelosa, afável, a beleza comercial de sua personalidade inventada, a deprimiu.
Chorava amargamente, tomou coragem e resolveu decifrar o sentimento de não ser, que ela sentia sem entender a causa.
Laura achou agradável ser uma bailarina, ou uma borboleta, mas Laura não notara que as bailarinas não são bailarinas, nenhuma bailarina é realmente uma bailarina. Dentro de cada uma delas, existe aquela coisa chamada gente, aquilo que não serve para nada, e vive para sempre, tentando servir para qualquer coisa ou assunto.
Mas as borboletas, provavelmente são realmente borboletas.
Laura é então apenas Laura?
Ou seria Laura uma velha borboleta burra, que não sabe bater as asas. Laura achou insano, se sentia esquizita e pensava em tentar morder a xícara.
Laura estava perdendo a coerência, estava ficando louca, isso não podia acontecer, além de ser uma farsa mal feita de si mesmo, Laura era débil, ela tinha que evitar isso de qualquer maneira, pela honra de qualquer um, pelo amor de alguma coisa.
Laura jogou o rádio pela janela, estilhaçando o vidro em centenas de pedaços cristalinos, limpos hoje cedo, Laura por segundos desejou que os vidros lhe cortassem os olhos.
Lembrou do seu primeiro encontro, lembrou das calças apertadas de seu primeiro pretendente, a lembrança a excitava, Laura se permitiu tomar vodka, ela estava desesperada, a lucidez a incomodava, ela bebeu, bebeu, e esqueceu sobre o que era a dúvida, só lembrava da dor que ainda existia. Assistia pela janela quebrada, o rádio espalhado na calçada, e os passantes investigando por segundos o que acontecera, aquilo a incomodava, gritava de sua janela: - cretinos, hipócritas!
Os gritos lhe acalmavam, começou a cantar uma canção triste e forte, que dizia sobre escuridão e flores.
Laura se atirou do 13º andar de onde morava, caiu estatelada no chão com o olho direito arregalado e sujo de sangue, seus miolos se espalhavam pela calçada, sua mão agarrava o que sobrou da garrafa, suja de batom vermelho.
Laura era então, o que se destinara a ser, e chocava para sempre a vida dos desavisados passantes, que em alguns anos ou minutos, contariam para suas terapeutas, sobre quando viu uma mulher morta na calçada, de vestido florido.
Alguns se lembrarão da cor de seus sapatos, outros da unha quebrada da mão esquerda, outros de seus cachos loiríssimos.
Mas nenhum deles lembrará das borboletas.

O pequeno fazendeiro

A criança brincava no quintal, de fazendinha, ela plantava pedrinhas, e regava papelão. Resolveu criar gado, seu primeiro bovino, era uma barata morta, que ela alimentava com mingáu!

6 de dezembro de 2009

Flores de plástico

O amanhã não é das horas, o amanhã é de quem não dormiu, e pretende ter um novo dia, para continuar regando suas flores de plástico, e continuar a comer seus confetes de pedra.

2 de dezembro de 2009

Carta

Tão delicadamente eu sinto os dedos sobre a pele asperoza , o vento agredindo lentamente aqueles fios embaraçados de cabelo, tão leve eu rodava em pensamento no meu jardim, eu podia ouvir cada cançãozinha, cada barulhinho doce do meu jardim. A câmera tremia um pouco com a delicadeza do momento, os olhos da moça sorriam com o som, o som passava grande no coração, amaciava o leitor de sonhos.

Um batuque violeiro, um sorriso gracioso, o movimento seco das pessoas normais, o olhar molhado dos velhos na janela, de bengala e botas, o motivo não existe, só existe a vontade de te encontrar. Mas acho até que você não sabe o que existe em mim sobre você, não sei se ainda estou insistindo, ou se estou aos poucos esquecendo...As coisas que eu li, não explicam bem o que eu sinto embaraçado, sobre você...

A noitinha, a moça dorme pensando em quem mais amou na vida, quase sente uma tristezinha, mas esquece, sono, e de uma outra cama dividida por dois, aquele que mais foi amado, pensa na moça amadora, que ele deixou naquele dia de sol e alegria, e sente uma tristeza significativa, e o sono sofre nele, marcando de negro, o espaço que existe no rosto, debaixo dos seus olhos melancólicos e bonitos!