15 de novembro de 2008

A sensação doce do som

Quando canta pende tonto de um lado ao outro, como que se estivesse sujeito a uma brisa, a um vento vazio que vem comum nos olhos, e por isso os fecho, sinto vibrações internas, não só as que caminham da garganta e guela, todas aquelas, que arrepiam os pelos dos braços da nuca, franze a testa, e marca os pontos da bochecha com o que se tem por sorriso, aqueles pequenos sinos anestesiam os ouvidos calmamente, até que entremos todos em transe, profundo e inesperado, sentimos dali um lirismo comportado e ousado, dos que se tem no chuveiro quente, só a água, só ela pode se aproximar de tais sensações, com delírios e luzes foscas, só a água, e quente, tem de ser quente, são todos quentes, até o gelo, até o frio, aquece. E termina tudo, onde tem que acabar, no final.

Um comentário:

Fernando A. Medeiros disse...

Muito legal!
Os desejos saem em um fluxo apenas, dando a impressão que a pessoa que está falando derrama tudo o que se passa em seu cérebro sem nenhuma autocrítica. Modo espontãneo, lírico, genial!