10 de dezembro de 2008

O menino e o violino

Fui lá, disse a ela, que me perguntava: - Teclado, disse talvez por humildade, humildade de menino de treze anos, humildade ou medo, o que queria mesmo (ou assim achava) era piano, bater dez dedos de uma só vez em notas de apenas duas cores, som legitimo e exato, na época não sabia que era preciso os pés também, e poucas eram as vezes que os dez dedos trabalhavam ao mesmo tempo, mas esses momento existem de fato, o momento dos dez dedos; Me parecia interessante, o achismo de um jovem, deveria lhe ser sua certeza, mesmo não sendo, mas, o medo tonto e constante de menino, acompanha-lhes, cada pensamento com uma dúvida, que muitas vezes não se solucionam, dúvida as vezes que preferimos esquecer a ter-la gritante nos ouvidos a incomodar o existir, atrapalhando os passos, fazendo nós, meninos, andar mais tortos, mais perdidos. O fato é que sobrou-me o violino, escolhi de outras poucas opções, e gostei, achei que combinava comigo,achei que tinha gostado, creio hoje, talvez tontamente, que me enganei, não um engano irreparável, pois importância realmente não há,mas senti: -Não gosto de ti, dizia eu para o banjo de madeira feia que fingia ser um violino, violino novo, porem tão ranzinza e irritante quanto um velho, chinês, velho chinês, porque chinês era meu violino, e ainda o é. Mas de fato, quando ouvi de primeiro momento, o som grave, violento e impiedoso do violoncelo, me senti atingido com mais profundidade, percebi ali que definitivamente estava tocando o instrumento errado, aliás, não tocava, arranhava feiamente as cordas grotescas, mesmo eu sendo o melhor de todos da fingida orquestrinha, o tonto spalla, ridículo concertino, só prova que talento não aparece de repente, talvez eu tivesse talento(o que me parece grande ilusão) mas não me ponho a pensar sobre isso, há em mim outras preocupações, coisas mais importantes é claro, mas importância realmente não há, em nada, só no sentir, senti pouco com os gritos nervosos do violino, mas quando de repente ouvia o cello, sentia sono, vida, e vontade, ao mesmo tempo, tudo isso, e até mais um pouco, pensei uma vez que sentiria vergonha de estar na posição sensual que o cello exige, ficaria eu agarrado de pernas abertas com tanto corpo, pensei meio eroticamente que não me apetecia, pudismo de menino de treze anos, alguns tem, mas não me incomodaria, me seria boa experiência sem dúvida, seria um romance, mas nunca tive entre as pernas o cello, tive até então, a bobeira de colocar as mãos no piano, e desajeitado fingir e acreditar sozinho que saia alguma música, não era música, nunca era, mas era comum as pessoas lembrar de mim,: - O menino do violino, e eu corrigia, - Nem tanto, mas importância real não tem, jamais terá!

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