9 de fevereiro de 2009

a cor do espelho

Uma vez eu me questionava sobre a cor do espelho, me peguei nessa dúvida voráz que me corroia o entendimento, pensei que ao olhar a imagem me questionaria a existência, a minha real existência ou quem sou eu, era o mais lógico a fazer, mas o que mais intensificou foi a duvida da cor, me veio obvio que eu precisava saber, qual era a cor. Passou-se dias e eu não pude entender a cor do espelho, eu ia da sala para o quarto e sentava em cada cadeira que via, mas a dúvida continuava única e sem resposta, o espelho ainda não ilustrava-me sua cor, não que isso fosse de extrema importância para um artista plástico ou um designer, e não que eu o seja, mas era o mais coerente a perguntar, qual a cor do espelho. Entrei nessa circunstancia e deprimi o que me restava de ânimo, passou dias e a minha existência era questionada por não saber sobre a cor, nada mais era certeza, tudo era uma grande dúvida, eu já não tinha competência para os pentes e as escovas, lancei-me em um mar de descuidos, fiquei feio, nem o choro pareceu-me ajudar, então eu não chorei, mas cogitei a idéia. Eu já não fazia mais nada correspondente a rotina, já não entregava os trabalhos, já não lia as placas, não pegava o ônibus certo, não descia no ponto certo, não ia para onde me chamavam, pedia socorro com os dentes, mas ninguém podia me dizer a cor do espelho, foram longas horas aquelas que passei deitado sobre o travesseiro e não encontrei ainda assim sentido algum para minha triste vida, de que adiantava existir se nem a cor do espelho eu sabia, pensei em morrer, sim por que morrer me traria um novo ânimo, uma nova idéia para me preocupar, mas não foi o que fiz, não morri, mas parei de comer, comia apenas quando a dor da fome me atrapalhava mais do que a dor do não saber, não saber é difícil, geralmente quando não sabemos, nos desfocamos, perdemos um pouco a noção de estar ou de ser, tanto faz, não sei ao certo, sei que me confundi completamente quanto ao que eu era, e olhar no espelho agora tinha novos significados complexos e não desvendados. Quando estive sentado no banco da praça, eu jamais imaginei ficar tanto tempo, a ponto de ver passar tantos conhecidos, que demonstraram estar ligeiramente preocupados comigo, faziam sempre aquela cara que se espera fazer quando vemos alguém doente, mas seguiam suas vidas comuns, afinal o que poderiam fazer, era praticamente uma escolha minha estar ali questionando a própria vida, sem muitas intenções se aproximou de mim outro amigo, ele não percebeu com exatidão o meu estado de espírito, ele tinha suas próprias preocupações talvez, ou era um grande distraído, ele sem querer me perguntou o que eu tinha, especifiquei ao máximo minhas angústias, mesmo pensando que não lhe era coerente, mas tentando ser, ele pensou pouco e disse, provavelmente a cor é preto, pois ele reflete o que esta em sua frente, uma vez que ele não tem nada para refletir, ele não é nada, ausência de luz, ele aquilo que reflete ser. Olhei pasmo e resolvido para ele e agradeci-o lentamente, minha vida se encaixava naquelas palavras significativamente tontas, e percebi ali que o espelho é negro e vazio como eu!

Um comentário:

Fernando A. Medeiros disse...

Depois diz que não é deprê!

Mas deprê por um espelho! Vixi, doido! É... meio Oscar Wilde, com temperos de absurdo.