No meu palco cinza e opaco, onde os bons demonstram uma presença comum, em meu palco eu sinto os atos passando, cada ato e fala num sincronismo comum, às vezes cheios de lágrimas, às vezes sincero como um tomate vermelho, e tão vermelho quanto um tomate pode ser, nesse palco, eu sinto cada cor cada cheiro, mas só sinto, porque eles não existem, são fictícios, nesse palco o rosto das pessoas é mais pálido, até do negro, é mais pálido, mais sem vida, mais opaco, e cinza, nesse palco de mim eu sinto dores repentinas, que me faz abrir a boca com ar de surpresa, que me faz derramar sete lágrimas gordas pelo canto do olho, e brilha, e como brilha o olho do ator em mim, o ator no meu palco, no palco de mim, nesse meu palco de madeira velha, eu sinto ranger os pés da sorte, e sinto perfeitamente, de olhos fechados, o rosto simples do ator, rosto comum de gente, rosto seco e cheio de pele, e é a representação perfeita da condição humana, pele sobre pele, a nossa condição é ser cheio de pele, sincero como um tomate vermelho.
Depois de tantos atos simples, cinzas, e sinceros, meu palco presencia a construção da memória, ou a criação do sistema de lembramento, daquele momento do futuro que paramos completamente o presente, para dizer sobre o passado, no meu palco eu percebo perfeitamente esse momento, que sito completamente cinza e tão cheio de cor, nesse meu teatro, percebo a construção desorganizada da vida, e é perfeita, a construção colorida da vida cheia de tomates cinzas.
Queria lembrar que no palco o movimento é brando, queria ressaltar, que no palco, os pulos não existem, os passos significam melhor, e os braços se mechem pouco, só de estar ali, a cena já é, e não espera para ser, ela começa quando começa, e nunca termina.
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