7 de dezembro de 2009

Laura burra e desavisada de sí

Laura vendo um filme triste, de repente se senta no sofá e percebe que ela, definitivamente não é o que pensava ser.
O coração de Laura agoniza, como se ali dentro, guardasse o pedaço da alma, que nos faz ser. Imediatamente, Laura leva a mão ao peito, e sensível chora.
Laura agora não sabe quem é, mas sabe que não é mais o que era antes, e agora? O que Laura deve fazer, olhando a janela da cozinha, com a mão ainda no peito, Laura percebe que tem um longo caminho para descobrir-se de si;
Por onde começar? Laura senta na cadeira e olha para o livro de receitas sobre a mesa, e resolve começar do passado, uma breve análise sobre quem ela achava ser.
Ela acreditava que era mulher, esposa, mãe e dona de casa, o choque da simplicidade infeliz que era sua vida, a fez balbuciar um choro ruim, imediatamente tratou de ter pena de si, e buscou significados mais complexos sobre o que se pensava ser. Laura então decidiu que achava que era, sensível, amável, zelosa, afável, a beleza comercial de sua personalidade inventada, a deprimiu.
Chorava amargamente, tomou coragem e resolveu decifrar o sentimento de não ser, que ela sentia sem entender a causa.
Laura achou agradável ser uma bailarina, ou uma borboleta, mas Laura não notara que as bailarinas não são bailarinas, nenhuma bailarina é realmente uma bailarina. Dentro de cada uma delas, existe aquela coisa chamada gente, aquilo que não serve para nada, e vive para sempre, tentando servir para qualquer coisa ou assunto.
Mas as borboletas, provavelmente são realmente borboletas.
Laura é então apenas Laura?
Ou seria Laura uma velha borboleta burra, que não sabe bater as asas. Laura achou insano, se sentia esquizita e pensava em tentar morder a xícara.
Laura estava perdendo a coerência, estava ficando louca, isso não podia acontecer, além de ser uma farsa mal feita de si mesmo, Laura era débil, ela tinha que evitar isso de qualquer maneira, pela honra de qualquer um, pelo amor de alguma coisa.
Laura jogou o rádio pela janela, estilhaçando o vidro em centenas de pedaços cristalinos, limpos hoje cedo, Laura por segundos desejou que os vidros lhe cortassem os olhos.
Lembrou do seu primeiro encontro, lembrou das calças apertadas de seu primeiro pretendente, a lembrança a excitava, Laura se permitiu tomar vodka, ela estava desesperada, a lucidez a incomodava, ela bebeu, bebeu, e esqueceu sobre o que era a dúvida, só lembrava da dor que ainda existia. Assistia pela janela quebrada, o rádio espalhado na calçada, e os passantes investigando por segundos o que acontecera, aquilo a incomodava, gritava de sua janela: - cretinos, hipócritas!
Os gritos lhe acalmavam, começou a cantar uma canção triste e forte, que dizia sobre escuridão e flores.
Laura se atirou do 13º andar de onde morava, caiu estatelada no chão com o olho direito arregalado e sujo de sangue, seus miolos se espalhavam pela calçada, sua mão agarrava o que sobrou da garrafa, suja de batom vermelho.
Laura era então, o que se destinara a ser, e chocava para sempre a vida dos desavisados passantes, que em alguns anos ou minutos, contariam para suas terapeutas, sobre quando viu uma mulher morta na calçada, de vestido florido.
Alguns se lembrarão da cor de seus sapatos, outros da unha quebrada da mão esquerda, outros de seus cachos loiríssimos.
Mas nenhum deles lembrará das borboletas.

2 comentários:

Calebe Souza disse...

Laura é a mulher do prefeito? Acho que Laura é uma trava, é nada, se fosse trava ia ser toda decidida,,,!

ahsud, ótimo, adorei o texto... quase morro junto.

Lipe disse...

\o/ ... Laura é só uma dona de casa...que sabe fazer tortas de morango!