29 de agosto de 2008

Hey man



Hey man, é hora de arrumar suas coisas, o seu quarto, abrir as janelas e voltar a estudar.

Hey man, eu sei que você não esteve presente, é você esteve longe, esteve viajando de novo.

Hey man, mas agora está na hora de você voltar e iluminar as pessoas com sua luz é você tem uma bela luz man, volte, não teime em ficar viajando, sei que viajar é preciso é inspirador e todas aquelas coisas que as pessoas dizem, eu sei.

But man, já chegou mesmo a hora de voltar.

Lembra quando você passava pelos jardins sorrindo e balançando os cabelos, é man, eu também me lembro bem, bons tempos aqueles em que a turba de pensamentos confusos, a turba não te machucava, ela nem existia.

É man, eu sei, foram difíceis aqueles outros tempos foram sufocantes, eu sei, mas já passou.

O inferno sombrio e vadio, man o inferno já passou.

Man se lembra daqueles dias em que você tocava violão. hóu era muito bom man, era ótimo ouvi-lo cantando com os dedos nervosos nas cordas, man, você se lembra?

Eu sei que se lembra.

Eu sei.

Então vamos voltar man, voltar eu e você, sim man, será melhor chegar lá e ver tudo o que passamos juntos, tomaremos um bom café ali na esquina, vamos ver os carros passarem, vamos sorrir juntos e vamos sempre lembrar, sempre, sempre.

E eu estarei lá, mas é claro man, sempre estarei lá.

28 de agosto de 2008

Solitaro viajante



Na minha cabeça tem um zumbido
Acho que é uma gaita
Ou um sopro metálico
Um batuque ao fundo
Ninguém fala comigo
Eu sigo viajem e ninguém me percebe
Sou só mais um vigiado da lua
Mais um na terra
Um dos que anda pulando as amarelinhas
Com aquela canção de poesia
Sempre, sempre na cabeça
Eu até daria a lua um presente de ouro
Afinal só ela me vê,
E me sente
É a única que me percebe
Dela eu tenho admirável atenção.
Mas é só poesia de outrora
E esses minutos teimosos ainda são contados
Às vezes são contados também depois do enterro,
Não no meu caso
Ninguém conta
Ninguém contará
Mas a lua me espera.

26 de agosto de 2008

Esconde-esconde




Onde estamos?
Que diabos está acontecendo?
A poeira apenas começou a cair
Tem círculos cortados no tapete, afundando, sentindo
Me rodopie de novo e esfregue meus olhos
Isto não pode estar acontecendo
Quando ruas congestionadas,
Uma bagunça com pessoas,
Elas poderiam parar para segurar as próprias cabeças pesadas

Esconde-esconde
Trens e máquinas de costura?
Todos aqueles anos eles estiveram aqui primeiro

Marcas oleosas aparecem nas paredes
Onde antes, momentos prazerosos aconteceram
A tomada, e sua insensibilidade elétrica
Ainda viva

Esconde-esconde
Trens e máquinas de costura?
Oh, você não vai me encontrar por estas redonzedas
Sangue e lágrimas,
eles estiveram aqui primeiro

O que você diz:
Oh, disse que você foi o único que afirmou e teve certeza,
bem é claro que teve
O que você diz:
Que é tudo para meu bem, claro que é
O que você diz:
Que é só o que nós precisamos, você decidiu isto
O que você diz:
O que ela disse?

Notas de resgate ficam caindo de sua boca
Fala meio-doce, palavras recortadas de jornal
Conversa sem sentimento, eu não acredito em você
Você não se importa nem um pouco,
você não se importa nem um pouco
Você não se importa nem um pouco

25 de agosto de 2008

Poema para se ler ao contrário



Pega-se o sexo e põe em duas caixas, o menino e a menina.
Separa-se fielmente, como o doente em redoma.
Cultiva-se como planta, poda-se os defeitos.
Um a cada lado.
Há os que não vingam
Os que morrem
Os que infeccionam
Os que falham
Separa-se esse outra vez e esconde pudicamente.
O que chegou ao fim é certo, uni-se esse ao que bem cedo originalmente separou, insiste um ao lado d’outro e teima um fim feliz.
Para que complete mais um ciclo. O ciclo do sexo

17 de agosto de 2008

Morangos

Então o menino se levantou da frente do computador e foi até a geladeira para ver o que tinha lá dentro, tinha uma caixa de morangos com seis morangos meio velhos lá dentro, pareciam bons ainda, ele tirou o tablete de fermento que estava em cima da caixa de morangos, pegou um morango, o maior e mais bonito, foi até a pia tirou o cabinho lavou e comeu, quando terminou de comer este ficou com vontade de comer outro, foi de novo até a geladeira e pegou a caixa toda, sobravam cinco morangos, pegou um qualquer lavou tirou o cabinho e comeu olhando para a janela como se alguma coisa interessante estivesse acontecendo, mas nada de interessante acontecia, é claro, no terceiro morango lavado e sem cabinho que ele comia, viu o gato subindo a escada e ir se deitar no beiral para tomar o resto de sol que sobrara daquela tarde monótona e sem graça, foi no quinto morango que cheio de tédio viu que o vento soprava as folhas com calma como se estivessem conversando sobre coisas que velhos conversam nos parques, praças, pontos, esquinas, ônibus, clinicas, metrô, portões e muros, lavou o ultimo morango, tirou o cabinho, foi até o armário, pegou o recipiente de porcelana, colocou o morango dentro, fechou com um pires como se fosse tampa, abriu a geladeira e colocou lá sem olhar direito onde, fechou a geladeira e voltou para o computador.

16 de agosto de 2008

são coisas que aguçam



sou daqueles que se enfiam em toscos lugares mórbidos e sem cor, só para brilhas mais que o resto.

sou do tipo que se enfeita como árvores malkavianas quando tem por paisagem o oceano.

sou do tipo que se espelha na palma da mão para não dividir a imagem.

sou dos que propagam e sempre é propagado, anunciado e tido...

sou tido por muitos como louco, por poucos como loucamente normal, e pela ínfima parte do mundo como o que esta certo.

sou da antropofagia sistemática e repetida, do clero sem pudor, das mesmices humanas, das alegrias contidas.

Cabimento



Arnaldo Antunes

Composição: Arnaldo Antunes / Paulo Tatit

como uma agulha cabe numa caixa de fósforos
ou num caixão
num palheiro num jardim no bolso de uma pessoa
na multidão
caminhão montanha tudo cabe em seu tamanho
tudo no chão
hoje eu caibo nesse mesmo corpo que já coube
na minha mãe

minha mãe
minha avó
e antes delas minha tataravó
e antes delas um milhão de gerações distantes
dentro de mim

um lugar
num porão
uma cama num colchão
como um átomo num grão
uma estrela na galáxia

como a bala de revólver cabe no revólver
cabe também
numa caixa num buraco bem no centro do alvo
ou em alguém
onde cabem coração cabeça tronco e membros
soltos no ar
como cada gesto cabe no seu movimento
muscular

só nós dois
meu amor
não cabemos em mim ou em você
como toda gente tem que não ter cabimento
para crescer

14 de agosto de 2008

eu me perdi


Eu tentei assimilar um eu comum com os dos outros, mas me perdi completamente, eu não cheguei a lugar nenhum com meus movimentos filosóficos, eu tentei buscar um linear do tempo em que eu me acharia normal, mas não encontrei. O que sobra é um eu estranho e incomum as regras, um alguém confuso e distante, que não sente mais com a depressão, perdi o rumo dos meus falsos pretextos e objetivos, me desloquei do que eu entendia como eu mesmo, ou do que eu tinha me conformado, e agora não encontro mais a entrada do suburbano dentro de mim, sei que parece tolo e confuso, mas é sincero e descabido de atualizações, enfadonho ao ponto de não se decidir se preferia eu o Ibirapuera ou a Paulista para um passeio, perdi as idéias e já nem tenho certeza do que sei fazer, tudo pode ser um prelúdio de uma vida coerente e significante, nisso concluo que o correto a fazer é dormir e lembrar que amanhã é outro dia, isso ainda cabe, mesmo eu pensando que não cabe, pois como já dito, a matéria tosca dentro de nós não muda, o que muda são as camadas, como cebolas, acho que posso perceber que o importante agora é chegar ao limite e me superar, seja lá para que fim isso me leve, não tem importância... os fatos são: Amanhã é outro dia.